sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Viagens

Os africanos em geral, viajam muito. Manter-se em contacto com os parentes faz parte de um ritual que mantem as pessoas isentas do pior dos males em África: o mal olhado. Partilhar o que for possível ajuda a manter o clã ( para empregar um termo da antropologia cultural) em paz com todos e com os antepassados.
Na Guiné Bisasau, a minha segunda pátria, todos os meios de transporte são válidos para se cumprir esta sina. Lá, sem família para além daquela "portable" viajavamos para conhecer a terra e para trabalhar.
Bubaque era um destino que nos ocupou algumas férias de Páscoa ou então, fins de semana prolongados. Uma estância construída em madeira na Europa, com alojamentos muito semelhantes ao que equipam alguns estaleiros de construção civil e um mobiliário parco mas confortável, era quanto bastavam, quando havia dinheiro. Nas mais das vezes o campismo era uma solução, quando eram mais dias.
Os meios de transporte eram o pior.
Mas, como como estavamos tirocinados em matéria de desenrascanso, todos os meios eram usados. Desde o moderno Cassacá ( tipo cacilheiro), à barcaça de desembarque (LDG) da antiga marinha de guerra colonial, ao barco de pesca Oracuma oferecido pelos suecos, ao helicóptero MI8 das FARGB, passando pelo fokker velhinho da TAGB ou o mais velho Dornier, herdados da colónia. Umas vezes a pagar outras à boleia. ( por isso é que a África é inegualável).



O moderníssimo Cassacá em operação de desembarque de passageiros no cais de Bubaque ( Bijagós)














O barco de pesca Oracuma, com casco em cimento armado, que levava tudo menos pesca: angolanos, mouros (Mauritânia), bijagós, papéis, italianos... fica um pouco difícil distinguir o mouro do angolano.



Aqui uma Ldg semelhante à que nos deu boleia, com a ilha de Rubane ao fundo.





A Ldg da nossa aventura. Como vêem não havia resguardos e instrumentos de navegação, apenas uma bússula. Passadas duas horas desta foto, de noite, levantou-se uma mareta que nos fez dizer mal das nossas vidas. Nós agarrados à nossa filha de 4 anos, o Fernando ao macaquinho fula de uns meses.



O piloto acalmou-nos dizendo as confortáveis palavras " Ca tene problema camarada! bós ca na bai murri!"
Lá chegamos sãos e salvos a Bissau pelas 23 horas.






O nosso MI 8 . Como dava aulas no palácio, o Presidente Luís Cabral fez o favor de nos sugerir apanharmos boleia numa das viagens que o MI teria de fazer a Bubaque, para a levar a logística para a recepção ao Presidente Sekou Turé.

Lá fomos para a base aérea com as imbambas de campismo.



O excelente aparelho estava preparado para levar 11 toneladas de carga. Fomos por cima de sacos de arroz, caixas de corvina, malas e outras biquatas necessárias.



A carga e os passageiros provavelmente excediam o que estava previsto, porque em vez de descolar na vertical, como qualquer heli, o piloto percorreu uns duzentos metros de pista como se fosse um reles aeroplano.

Dá para ver o conforto da viagem de cerca de duas horas no "Vertalhoss"
















O Friendship pilotado pelo portuguesíssimo Pombo aqui a descolar do aeroporto de Bubaque.

Como não havia carreira regular, a pista era aproveitada para pasto das vacas anãs da ilha.

O Pombo ( nome a condizer com a profissão) assegurava-se primeiro que a pista estava desocupada dando umas voltas à pista, para que os pastores levassem o gado para um lugar mais apropriado.







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