sábado, 15 de março de 2008

Meios de comunicação alternativos


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A caminho de Calequisse. Encontramos um grupo de bajudas que íam à feira vender uns potes, maravilhosamente confeccionados e que nos venderam um,(ainda o temos.)

Na Guiné Bissau, como noutros países, a comunicação entre as comunidades ou entre cada comunidade, é absolutamente imprescindível. Não comunicar é sinal de desprezo pelos seus familiares, falta de humildade e insanidade.
Durante a luta armada pela sua identidade, os guineenses passaram a usar os seus meios tradicionais de comunicação para as operações de guerra e o operador de comunicações, retomou o seu estatuto.
Numa das missões que efectuamos ao serviço do Comissariado de Estado da Cultura, em prospecção arqueológica, fomos acompanhados pelo administrador da região de Cacheu e no caminho de Calequisse, sem telefone portátil ou outro meio electrico de comunicação, era necessário perguntar se tínhamos caminho livre para uma tabanca no mato profundo, perto da costa.
O motorista do Land Rover (senegalês) não queria arriscar atolar o jeep numa "lala" (clareira na floresta normalmente alagada), e no meio da discussão de planos para aqui e para acolá,(como bons africanos, soltos na conversa e parcos na acção) o nosso bom secretário da administração, (não me recordo do nome) fez então uso do seu conhecimento da terra.
Decidiu que deveríamos tentar na tabanca mais próxima, falar com algum sekulo (na terra - Homem Grande) para resolvermos seguir viagem ou não.
Chegados à tabanca, meio em creoulo meio em francês (na região dos manjacos o francês é a língua estrangeira mais comum) lá ficamos a saber, que era preciso saber o estado de uma velha ponte de troncos feita no tempo colonial pela tropa.
Como fazer? o homem grande disse " prabulema Ca tem camarada, nô bai sibi, nã próprio, quinti quinti!" ( não há problema vamos já saber depressa). Fomos encaminhados até à morança do operador de Bombomlom (telégrafo). À porta deparamo-nos com o transmissor: uma secção de tronco de um poilon (sumaúma) escavado profundamente e duas baquetas - nada mais.
Sentou-se e começou a transmissão uns dez minutos com umas batitas fortes espaçadas outras curtas e já está. Passado uma hora, ouvimos ao longe a resposta um som longínquo, a resposta: " a baga-baga comeu os troncos" (salalé).
Azar!
E pronto: sem gasto de energia, bastaria um conjunto de repetidores e aí estão as notícias.
Este recurso foi pouco depois utilizado para outra operação.




Aí está o Bombolom e o seu operador

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